quinta-feira, 17 de março de 2011

“Bruxo” liderava esquema de uma década


Evandro Rogério Roman
Foto: Arquivo PLACAR
O paranaense Evandro Rogério Roman: ele não teve medo de denunciar colegas do apito
O apelido do Operário Ferroviário, o segundo clube mais tradicional do Paraná, é Fantasma. E foi do clube de Ponta Grossa que nasceu a assombração que trouxe à tona o mais escandaloso esquema de corrupção de arbitragem no futebol paranaense. Em 28 de agosto, no programa Histórias do Esporte, da ESPN Brasil, o então presidente do Conselho Deliberativo do Operário, Sílvio Gubert, deu uma declaração bombástica. Referindo-se a um personagem que atendia pelo apelido de “bruxo”, ele disse que, para um clube conseguir ter alguma chance de subir da segunda para a primeira divisão, precisava contribuir com, no mínimo, dois mil reais para um “caixa dois” da máfia do apito.
A declaração de Gubert desencadeou a abertura de um inquérito no Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Paranaense. As investigações revelaram um esquema que seria praticado há pelo menos 10 anos por uma quadrilha.
As informações apuradas foram inconclusivas para se dizer com exatidão quantos árbitros participaram do
esquema, mas revelaram, pelo menos, os cabeças da máfia.
Foram citados como os líderes da quadrilha os seguintes árbitros: José Francisco de Oliveira, Carlos Jack Rodrigues Magno, Antônio de Oliveira Salazar Moreno, Marcos Tadeu Silva Mafra e Sandro César da Rocha, além do presidente do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Paraná, Amoreti Carlos da Cruz. Todos agiriam em conluio com o diretor-administrativo da FPF, José Johelson Pissaia – braço direito do presidente da federação, Onaireves Moura. Dos  denunciados, um foi réu confesso: José Francisco de Oliveira. Morando atualmente em Londres, ele confirmou o esquema. “O dinheiro a gente pegava em envelopes entregues pelos dirigentes dos clubes. Daí, levava para o Johelsson Pissaia e ele fazia o rateio. Esse é o bruxo-mor”, disse o ex-árbitro.
Único dos árbitros citados no inquérito a ser condenado no julgamento de 10 de outubro no TJD (o árbitro Evandro
Rogério Roman, do quadro principal da CBF, depôs contra os colegas, confirmando o esquema), José Francisco de Oliveira se disse indignado com a absolvição dos outros “envolvidos”. E fez mais denúncias, que respingaram no presidente da FPF.
Isso levou o procurador do TJD-PR, Davis Bruel, a pedir a anulação do julgamento que absolveu os demais envolvidos no imbróglio. Pressionado, o tribunal se reuniu novamente em 18 de outubro e também baniu do futebol José Johelsson Pissaia, Sandro da Rocha, Marcos Mafra e Antônio Salazar Moreno.
É bem provável, porém, que a Federação Paranaense pressione o STJD, assim como fez com o TJD e a CBF. Motivo: vários árbitros envolvidos atuaram em jogos da Série B deste ano. Se o caso ganhar contornos nacionais e vier à tona alguma suspeita de manipulação de resultados, a competição correria o risco de ser anulada.
A dupla Ba-Vi, rebaixada para a Série C de 2006, acompanha de perto o escândalo de corrupção no Paraná. “Soubemos que árbitros do Paraná, que apitaram jogos na Série B, foram afastados por suspeita de fraudes e queremos ver se não houve desdobramento disso na Série B”, disse o advogado do Vitória, Manoel Machado. Sinal de que o “bruxo” detinha poder capaz de fazer assombração até na terra de todos os santos.
* Matéria originalmente publicada na PLACAR 1288 de novembro de 200