quinta-feira, 17 de março de 2011

São Paulo volta à Copa do Brasil com a missão de esquecer fracassos históricos


Time do São Paulo campeão do Campeonato Paulista de 2000
Foto: Ricardo Correa
O time do São Paulo campeão paulista em 2000, que perdeu a Copa do Brasil no último minuto
É o único título que falta na abarrotada sala de troféus do Tricolor. Mesmo que alguém mencione a Sul-americana, também não encontrada na galeria do Morumbi, é válido considerar a conquista são-paulina da Conmebol de 1994, que nesses tempos de reconhecimentos e unificações, faz a vez de torneio sul-americano de segundo escalão.
O São Paulo participou das edições do torneio em 1990, 1993 e, a partir de 1995, de todas  até 2003. E colecionou desempenhos tímidos em várias delas e fracassos retumbantes em pelo menos três edições: 1996, 2000 e 2002.
1996: Bobeada dos cartolas encerra a campanha tricolor
O São Paulo vivia um momento de reorganização. Ainda respirava as glórias do começo da década de 1990, quando os cardeais do Morumbi colocaram em prática o Projeto Tóquio, que conduziu o time de Telê Santana ao bicampeonato Mundial.
A necessidade de reforma nos amortecedores do Morumbi consumia os investimentos do clube, que viu o time de futebol enfraquecer. Mesmo assim, o são-paulino sonhava com o retorno à Libertadores e a Copa do Brasil era o caminho mais curto.
O São Paulo estreara no dia 12 de março contra o América-MG no Independência em Belo Horizonte. O time vinha de uma acachapante goleada diante do Corinthians: levou 5 x 0 do rival, o técnico balançava e o momento era de crise. O placar foi de 2 x 1 para o time paulista, com dois gols de Aílton. E no comando do time estava um certo Muricy Ramalho. O jogo de volta aconteceu sete dias depois, no Pacaembu – o Morumbi estava interditado. No jogo, goleada tricolor: 4 x 1 e classificação para  as oitavas-de-final.
O adversário era o Internacional, que acabou passando. O Inter precisou de apenas um jogo. Sequer foi necessário vencer. O placar foi 1 x 1, no dia 2 de abril, no Beira-Rio.
Não houve segundo jogo porque o São Paulo foi eliminado no STJD. O Tricolor escalou Lima, jogador que vinha do Nacional de Manaus e que já tinha atuado na Copa do Brasil de 1996. O regulamento não permitia, o jogador foi escalado e o tricolor foi eliminado.
O time estava longe de ser um dos melhores do país e, se continuasse na competição teria Flamengo nas quartas e Cruzeiro nas semi. Se fosse à final, o adversário seria o Palmeiras de Luxemburgo. Em 1996, o campeão da Copa do Brasil foi o Cruzeiro.
2000: Título por água abaixo em 10 minutos
Sorín comemora o título da Copa do Brasil de 2000
Foto: Eugênio Savio
Sorín comemora o título cruzeirense na derrota mais amarga do São Paulo na Copa do Brasil
O mesmo Cruzeiro que, quatro anos depois, venceria a Copa do Brasil numa final contra o São Paulo. Uma das finais mais amargas da história tricolor (talvez no mesmo patamar das finais da Libertadores de 1994 e 2006). Apesar disso, é a melhor campanha são-paulina no torneio até hoje.
O São Paulo fazia uma campanha sólida, tinha uma equipe rápida e talentosa e vinha embalado pela conquista do Campeonato Paulista sobre o Santos. Era um time habilidoso no meio-campo, com o experiente Raí e Marcelinho Paraíba – tendo ainda Edu, então jovem promessa como coringa dos intervalos.  Contava com jogadores do calibre de Edmílson, Belletti, Maldonado e Fábio Aurélio. À frente, no ataque, França fazia gols e vivia fase inspirada, que o levou à seleção brasileira.
Mas o resultado foi traumático para toda uma geração. No primeiro jogo da final, o empate em 0 x 0 no Morumbi deixava a decisão em aberto, com a vantagem tricolor de num empate com gols levar a taça.
No jogo de volta tudo parecia conduzir o São Paulo à Libertadores e ao título inédito. Marcelinho Paraíba abriu o placar aos 20 minutos do segundo tempo, dando enorme vantagem ao Tricolor. O Cruzeiro lançou-se ao ataque e, aos 35 do 2º tempo, empatou com gol de Fábio Júnior.
Ainda assim, era questão de tempo, 1 x 1 dava o título ao São Paulo. Mas uma falha histórica do hoje anônimo zagueiro Rogério Pinheiro selou o destino da Copa do Brasil de 2000. O zagueirão era o último defensor antes de Rogério Ceni e perdia na corrida num ataque que parecia fulminante. Não teve dúvidas: segurou Geovanni, foi expulso e deu o ensejo para a falta que desempataria a partida no último minuto. E daria o título ao Cruzeiro.
2002: Duas eliminações em 12 dias
Kaká com a camisa do São Paulo em 2000
Foto: Renato Pizzutto
Kaká foi um dos bodes expiatórios da eliminação de 2002
E para o Corinthians. Não foi fácil ser são-paulino naqueles dias. O Tricolor encontrou o Corinthians nas semifinais da Copa do Brasil. Perdeu a vaga na final: 2 x 0 para o Timão no primeiro jogo e vitória são-paulina por 2 x 1 na partida de volta. No intervalo, as finais do Rio-São Paulo, com título corintiano: 3 x 2 e 1 x 1.
O episódio balançou as estruturas no Morumbi. Pesou muito na saída de Kaká por conta do destempero de parte da torcida, significou o ocaso do grupo político que atualmente é oposição à Juvenal Juvêncio e foi a gota d’água para a queda do técnico Nelsinho Baptista.
O fracasso retumbante no primeiro semestre – foram três competições: Copa dos Campeões, Copa do Brasil e Rio-São Paulo com um time muito bom e resultados muito ruins – que amargou ainda outro desastre na temporada, no Brasileirão. O São Paulo liderou o campeonato todo e foi eliminado pelo Santos de Robinho, que seria campeão. A temporada desastrosa significou mudança de rumos no clube, o surgimento de uma mentalidade mais focada em jogadores mais pesados, surgiu um certo Diego Lugano, o São Paulo voltaria à Libertadores em 2004 e se tornaria habitué do torneio.
A hora de exorcizar os velhos fantasmas
Em 2011 “a Copa do Brasil é a nossa Libertadores”, diz Rogério Ceni. O São Paulo sepultou os velhos traumas no torneio nos últimos 7 anos, mas terá que encarar o peso morto de todos esses fracassos conforme for progredindo na competição. Vale lembrar que o Tricolor é o único dos quatro grandes de São Paulo que ainda não conquistou a Copa do Brasil.
A necessidade de disputar a Libertadores em 2012, a pressão por títulos e a questão do ineditismo do troféu na galeria tricolor pode pesar mais adiante. Se o time será capaz de superar os outros favoritos e as surpresas que sempre aparecem no campeonato, só mesmo o tempo irá dizer.